Entre batas brancas, bisturis, ligaduras e afins...

Pois é! Estava a fazer-me falta uma certa acção, uma certa adrenalina para que as férias tivessem aquele sabor de o-que-é-bom-acaba-depressa. Solução? Acabá-las no hospital!

Não... não é um novo conceito de fazer férias e também não devem entrar em pânico! Não organizem já excursões, não tentem saber em que piso estou ou o que me aconteceu! Até porque não sou eu a doente, mas, estes últimos dias e noites quase me mudei de armas e bagagens para o hospital local. Este post está mesmo a ser concebido in loco.

Tenho, portanto, ouvido muita coisa, observado ainda mais  e cheguei a uma conclusão: quem diz mal do nosso sistema de saúde e, mais concretamente, dos nossos hospitais... não merece o ar que respira nem a água que bebe!

Eu tenho constatado como tudo é pensado ao pormenor, como tudo é idealizado e concebido para que o doente... vá o mais depressa possível para casa! Por detrás de tudo isto, deve, certamente, existir um cérebro brilhante que arquitecta planos geniais com vista à rápida recuperação de cada enfermo...

 

Comecemos pelos quartos: apenas duas camas, logo, apenas dois doentes. Bastante razoável. Até televisão há, mas... apenas sintoniza a TVI! Agora digam-me: qual é a alminha que aguenta uma estadia prolongada no hospital a levar com o Goucha, a Júlia Pinheiro e os Morangos? É antes uma luta desesperada para que desliguem soro e deixem ir a correr para casa!

Capítulo da alimentação: puré  e arroz que fazem concorrência a muita argamassa, carne e peixe que elevam qualquer ração de combate à categoria de "nouvelle cuisine".

Casa de banho: aquela que sou obrigada a frequentar não fecha. Ou seja, sou obrigada a encostar o caixote do lixo para que as minhas intimidades não fiquem à vista de quem passa! E papel higiénico é coisa rara por aquelas paragens e, como não há moitas, lá vai  a menina de rolo em riste!

Os seguranças: há tipos que gostam de fingir que as funções que exercem dão uma trabalheira do caraças. Vai daí, implicam com Deus e com o Diabo. Exemplo: 5 lugares de estacionamento destinado a deficientes, devidamente assinalados no chão e na parede. A sô dona Teia estaciona o veículo no lugar ao lado. O sô Segurança vem direito a ela e pergunta se tem autocolante no carro a indicar que é deficiente. Estive tentada a perguntar se ele por acaso queria um para ele! Mas limitei-me a indicar a sinalética dos lugares e fazer-lhe reparar que onde estacionei nada havia! Como estes "gaijos" não gostam de se dar por vencidos, ainda para mais frente a uma mulher, limitou-se a grunhir "Pronto, vá lá, vá lá!". Apeteceu-me pô-lo em coma, mas estava com pressa...

As visitas: eu até desconfio que há visitas que são escolhidas pelo hospital, como o público que é contratado para certos programas de televisão. Estão a ver aquelas visitas que vão averiguar as maleitas dos doentes dos quartos vizinhos e depois vêm fazer o relato? Aquelas visitas que se saem com "Olha, e sabes quem morreu esta semana?" e depois lá dão o obituário completo da paróquia e, não satisfeitos com isso e para que tudo fique mais animado, ainda acrescentam "Ah! E o filho do Felismino teve um acidente... coisa feia mesmo... e parece que não se safa...".

 

É ou não de nos  pormos a destilar saúde por todos os poros e rumar a casa a toda a velocidade? É ou não um sistema de saúde muito bem engendrado? 

(Robert Palmer - Bad Case Of Loving You (Doctor, Doctor))

 

Sinto-me: "olheira" do SNS
publicado por Teia d´Aranha às 19:57 | Comentar