Hoje acordei com vontade de fazer limpeza. Mas não apenas aquela limpeza que consiste em livrar-me do pó e da sujidade que os afazeres do dia-a-dia obrigam a acumular. Dei por mim a rasgar fotografias que me faziam mal. Aquelas que, mesmo fechadas numa caixa, impediam de colocar o passado para trás.
Haverá, certamente, gente a quem isto faz alguma confusão. Gente que guarda tudo religiosamente: fotos, bilhetes de cinema, flores secas, frases escritas em guardanapos de papel, postais... mesmo que algumas dessas recordações sejam difíceis de olhar e de tocar. Mas guardam. Um masoquismo fechado a sete chaves, num qualquer baú ou caixa de cartão lindamente ornamentada, como se isso tornasse a dor mais aceitável e suportável.
Eu não consigo estar refém daquilo que me magoa e me impede de avançar segura, de cara levantada e optimista.
Um dia, alguém me disse que guardarmos "coisas" que nos ligam a um passado (que por isso mesmo, por ser passado, já não existe) é como estarmos a negar a nós próprios o direito de avançar, de olhar o presente de frente e de nos projectarmos no futuro.
Hoje senti-me liberta. Senti que aquelas fotos, agora rasgadas e no caixote do lixo, não serão recuperáveis. E é isso mesmo que eu quero. Um passado irrecuperável.
(Perdoem-me aqueles que ainda têm a paciência de aqui vir à cata de novidades e que "batem com o nariz na porta". Parem de telefonar para hospitais e casas mortuárias, please! Estou viva e de boa saúde. Mas sem inspiração e com uma vida para além do blog. Tentarei visitar os vossos blogs, agora com mais dificuldade, já que a puta da barra esquerda comeu-me os links... E eu não sei como!!!)