O imperativo do adeus
"Por mais que a vida nos premeie com pequenas ausências ou com decepções que chegam de surpresa, cada adeus não tem nem primeira nem terceira pessoas, um singular ou diversos plurais, como não tem passado nem futuro. Por mais que pareça da nossa família, "adeus" é um imperativo que amachuca o coração e o transforma sempre num pretérito imperfeito.(...)
Era, realmente, mais fácil se, no lugar de um adeus, fôssemos rebeldes, irascíveis, ou, então, vaidosos e impertinente, diante de tudo o que nos salta do coração até ao corpo. E mais ainda, se as palavras se esgueirassem pelos olhos e falassem à margem de tudo o que sentimos. E, sempre que um adeus hesitasse na garganta, elas nos traíssem numa nesga de sílaba ou num gesto estonteante.
Mas como acontece tantas vezes, há palavras que são da nossa família sem que tenhamos, alguma vez, percebido o que querem dizer. É assim o "adeus". E, por mais que se faça da família, todo o adeus amachuca o coração. E transforma-se, vezes demais cada memória num pretérito... mais que imperfeito".
(Eduardo Sá)
(Há muito tempo que não me doía separar-me de pessoas com quem trabalhei. E se ontem não consegui (ao contrário de vós) expressar por palavras o quanto vocês foram importantes para mim, foi porque as lágrimas, que tentei a todo o custo esconder-vos, não mo permitiram... Tal como dizia, ontem, o P., entre lágrimas e copos de wisky, "estivemos pouco tempo juntos, mas estivemos de alma e coração". E quando assim é, os pequenos momentos tornam-se grandes, os problemas transformam-se em ninharias e a "gentalha" que nos cerca, qual abutres, fica reduzida a insecto que se esmaga com o olhar da nossa indiferença. E lembrem-se (e esta é sobretudo para ti, P., que ainda lá ficarás): até no meio da "merda" é possível descobrir-se tesouros...
Até sempre. Digo-vos eu.)