Há os cépticos. Os que não acreditam. Os que nunca sentiram.
Há os crentes. Os que juram que existe. Os que já o viveram.
Chamar-lhe "Amor" corre o risco de ser exagerado, digo eu. Talvez por isso, eu prefira a expressão em francês, por não utilizar a palavra "Amour", mas antes o termo "Coup"... Como se de uma "pancada" se tratasse.
Uma pancada que nos atinge, vinda não se sabe donde e que nos deixa atordoados.
Uma forte ligação ou comunhão que se estabelece, mas cuja origem desconhecemos.
E o desconhecido assusta e suscita muitas dúvidas. E a opção de muitos é não ir ao seu encontro e renegá-lo.
Mas há o reverso da medalha... quando o desconhecido nos atrai e nos atiça a curiosidade. E aí, optamos por obedecer ao seu chamamento e lançamo-nos nessa espécie de abismo, indiferentes ao resultado da queda.
Eu só passei por essa experiência uma vez na vida. A do abismo. A do "coup de foudre".Há muito, muito tempo. Mas não esqueci, apenas "arquivei", como sempre faço com os momentos da minha vida que, embora chegados ao fim, me proporcionaram algo de bom, me enriqueceram enquanto ser humano.
Os maus momentos, esses... não têm direito a "arquivo". São incinerados e diluem-se no mais profundo dos esquecimentos.
Era noite. No ar pairavam vozes que se cruzavam numa troca de frases e de diálogos, desprovidos de nexo e aos quais eu me mantinha imune.
Todos os meus sentidos tinham sido absorvidos por notas musicais, saídas de uma viola desconhecida e das mãos de um estranho.
Nunca o soube. Nunca lho confessei. Não com estas palavras. Nem com quaisquer outras...