Os meus muros são os meus inimigos
Há quem me julgue uma fortaleza, daquelas bem imponentes, daquelas que resistem a qualquer sismo, a qualquer abalo. Daquelas que se mantêm de pé, pedra sobre pedra, independentemente dos ataques de que possam ser alvo.
É culpa minha, admito, se sou lida e interpretada desta forma. Porque eu própria passo essa imagem.
A de quem não se belisca com nada, a de quem suporta qualquer intempérie, a de quem tem uma armadura tão resistente que nada, mas mesmo nada me pode atingir. Nem o bem, nem o mal.
Mentira, ilusão, engano, perfeito disparate.
Plagiando Fernando Pessoa, também eu "Amei e odiei como toda gente.Mas para toda gente isso foi normal e instintivo.Para mim sempre foi a excepção, o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto demais ou de menos."
Eu sinto, como toda a gente. Eu prezo os sentimentos mais nobres, como qualquer pessoa.
Eu deixo-me tocar pelas coisas mais simples da vida: um sorriso, uma palavra de ânimo, um elogio, um abraço, um beijo, um toque.
Eu não consigo passar ao lado do sofrimento ou da tristeza das pessoas de quem gosto ou amo.
Posso não deixar transparecer a minha imensa alegria ou a minha profunda tristeza, mas ela está cá dentro. Sempre.
Se muitas vezes me mostro fria, gélida, quase insensível foi porque cresci obrigada a fazê-lo e quem me conhece bem, muito bem mesmo... sabe do que estou a falar.
Quando se foi educada para ser resistente, para lutar sozinha, quando as palavras e os gestos de carinho e de amor nunca batiam à minha porta... isso deixa marcas. Mais do que possam imaginar.
Passamos quase a ter "medo" de expressar afectos. E se os recebemos de alguém, desconfiamos, ficamos de pé atrás... porque não estamos habituados. Sabemos lidar com a adversidade, mas perante a felicidade tornamo-nos autênticos leigos.
E o que se faz, regra geral, com o que não conhecemos? Lidamos, manuseamos com todo o cuidado. Protegemo-nos com receio de qualquer "ataque" repentino. Queremos estar prevenidos, invulneráveis.
Eu sou assim com os sentimentos. Não me atiro de cabeça, não cometo actos de loucura ou gestos irreflectidos e dou por mim a ser comedida, a ir sem pressas, a pisar o terreno como se este se encontrasse minado.
Não troco de amigos como troco de roupa. Não salto de paixão em paixão como quem bebe um copo de água.
Mas, uma vez conquistada, sou fiel, respeito, cuido e sou capaz, nessa altura, de deixar que os meus muros caiam, que cada uma das suas pedras se desprenda e role, sem a preocupação de futura reconstrução.
Mas as conquistas demoram tempo. As conquistas requerem paciência, compreensão. As conquistas pedem altruísmo e dedicação. As conquistas são levadas a cabo por guerreiros, por destemidos, por quem sabe o que realmente quer, por quem tem a mesma perseverança na alegria e na tristeza.
As conquistas nunca foram conseguidas por quem é indiferente.
(O tipo de letra do blog mudou porque me apeteceu. É provável que eu, a Beta, a Teia... também vá mudando... Simplesmente porque não consigo ser indiferente... a tudo, mas sobretudo à vida.)