A manhã foi passada no dentista. Para muita gente seria um suplício. Para mim é sempre um gosto. Não que eu seja masoquista, mas porque, assim, ando com o "teclado" com um aspecto decente. Uma boca em mau estado é daquelas coisas que me custa ver e, em certas situações, me faz fugir.
Mas ir ao MEU dentista é mais do um cuidado de saúde. É também uma benção para os ouvidos e sobretudo para os olhos... porque ele...
- é giro que se farta,
- tem sempre música no gabinete,
- revela uma cultura geral acima da média,
- explica por A + B tudo o que vai fazer,
e, antes de usar toda aquela parafernália dentária e de começar a escaranfunchar-me a boca, pergunta...
"- Posso fazer maldades?"
E eu, apanhada de surpresa e feita coninhas, só consegui responder:
"- Desde que eu não sinta.."
Quem é a gaja que no seu perfeito juízo responde uma merda daquelas?!
Na próxima consulta (só daqui a 3 meses!), tenho de me sair melhor, porra!
Tal como estava previsto, o meu dia de ontem, teve início com uma deslocação a Coimbra por motivos profissionais. Como além da minha pessoa, ia apenas mais um colega, decidimos levar apenas um carro... o dele. À hora e no local combinados, lá estávamos.
A viagem decorreu sem incidentes: conversa para aqui, conversa para acolá; música baixa, quase imperceptível, como convém quando trocamos dois dedos de conversa com alguém. Até aqui... tudo bem! Até o sol ajudava a esquecer que ia em trabalho.
10h30: reunião que durou duas horas e meia e que veio a revelar-se mais proveitosa do que eu tinha previsto. Saí satisfeita, embora tenha ficado com a sensação de que vai efectivamente "sobrar para mim".
Mas do que eu nem sequer suspeitava, era do que me esperava na viagem de regresso!
Como já tínhamos, eu e o meu colega, conversado bastante sobre trabalho toda a santa manhã e como a nossa relação é estritamente profissional, o silêncio instalou-se de forma natural... E o que fariam vocês no lugar dele? Provavelmente, o que eu também faria se fosse o meu carro: ligaria o "cantante", o auto-rádio! E assim foi... o silêncio foi substituído pela música.
Como sou uma mocinha que, mal ouve umas notas musicais, fica de "orelha em pé" e se põe a desbravar as letras... nem sequer queria acreditar no que me entrava pelos ouvidos adentro!
Primeiro ainda pensei: " O gajo nem sequer estás a reparar que tem esta cena sintonizada num apeadeiro qualquer." E rapidamente desviei o olhar para o tablier do carro, tentando descortinar que raio de rádio seria aquela. "Nãããããããoooooo... Estou a ver mal", pensei. Não, não estava a ver mal! Estava mesmo escrito "CD"! O gajo tinha aquilo gravado!!!
Daquela música, saíam frases como: "Te amo do fundo do meu coração", "Um homem e uma mulher pró que der e vier", "É tanto amor, tanto querer", num português com sotaque brasileiro e que vim, após "pesquisa", a descobrir ser cantada por uma dupla chamada... (nem acredito que vou escrever isto!)... Leandro e Leonardo. E todo o CD andava à volta da mesma temática: juras de amor eterno!
Naquele momento, pensei que o quadro não poderia ficar mais negro do que já estava. O quadro... negro e eu... verde e quase a espumar-me! Estava redondamente enganada! A coisa atingiu o clímax quando o meu colega resolve que a dupla passaria a... tripla... e toca de acompanhá-los naquela verborreia melosa. Esta foi a parte em que quase saltei do carro em andamento em plena auto-estrada... mas depois, pensando melhor, achei que rebentar-me toda por causa de um Leandro e de um Leonardo não era de todo justificável.
Eu até admito que frases como as que ilustravam aquelas músicas pudessem mesmo chegar a dar vontade de... acasalar, mas noutro contexto! Junto a um pé de jaca, numa fazenda do Brasil profundo... bem profundo... bem lá no interior! Mas, ali, no carro, em plena A1, não fazia qualquer sentido! Como podia aquele tipo, apenas uns meses mais velho do que eu, ter aqueles gostos?!
De repente, tocou o telemóvel dele... YES! Ele ia, pelo menos, baixar o volume! Efectivamente... baixou e atendeu a chamada em alta-voz. Era a mulher a perguntar se almoçariam juntos. E quando eu achei que nada mais me poderia surpreender naquela viagem... eis que surge a "cereja em cima do bolo"... Eles tratavam-se por "filho" e "filha"!!! Que m**da de relação era aquela?! DDDDDAAAASSSSSEEEEE!!!!!!
Assim que cheguei a casa, só tinha um desejo: expurgar aquele sentimentalismo de trazer por casa com que fui brindada durante 45 minutos... Se assim pensei, mais depressa o fiz: pus-me a ouvir, uns decibeís acima do aconselhado, a música que vos deixo e que me fez renascer. E pensei que, apesar de tudo... "Life is beautiful"! Só espero que "o feitiço não se vire contra o feiticeiro" e que sejam vocês a achar que os meus gostos também são duvidosos... What do you think?