Não me vou demorar. Nem sequer precisam de me mandar entrar, até porque estou com as galochas todas molhadas. Também vou recusar o cafézinho porque tenho andado a "modes" que a abusar dele.
Vim só dizer que estas duas últimas semanas têm sido bastante complicadas, que grande parte do tempo estive no hospital a acompanhar o meu rebento mais velho. Ainda não está tudo resolvido, mas há-de ficar, não só porque eu quero, mas porque exijo à vida que assim seja!
Apresentado o motivo, julgo ser mais do que compreensível o meu afastamento, embora tenha, uma vez ou outra, passado os olhos nos "meus" (vossos) blogues para ver como paravam as "modas" e, em muitos casos, para me animar com coisas como esta.
Prometo ir voltando... a pouco e pouco, mas com mais ânimo ( e sempre sem tento na língua!).
... tens uma cena combinada há tempos infinitos para o fim-de-semana e começas com dores estúpidas na 4ª que passam a insuportáveis na 6ª e te enviam os planos para as urtigas.
... por causa dessas dores entras no hospital para que te seja diagnosticada a causa da porra das ditas cujas e sais de lá passadas 9 (nove) horas!
... durante essas nove horas ouves um grupo de septuagenárias a desfiar o rol de enfermidades como se concorressem ao prémio "E quem tiver mais doenças ganha um passe social e uma excursão do Inatel às termas de São Pedro do Sul" ou quando uma delas se queixa que em casa da filha não vê os programas de que gosta porque os netos só querem ver Morangos com "açúcre".
... o toque do telemóvel da paciente que está sentada ao teu lado é uma música do Tony Carreira (aqui é que as dores atingiram o clímax!).
... te levam a fazer determinado exame e ouves uma voz familiar ordenar-te "Agora, tire o soutien, baixe as calças...". E, assim que vejo o seu olhar surpreso ao dar de caras comigo, penso: "pronto, não te despiste nos tempos da faculdade, agora não tens escapatória!". (Há encontros lixados!)
... chegas a casa e és invadida(o) por náuseas que te fazem disparar em direcção ao wc e, de repente, dá-se um "apagão" e quando dás por ti, estás deitada(o) no chão e com o teu telemóvel dentro da sanita (mas Nokia que é Nokia não se deixa abater por tão pouco e, com ajuda do secador, funciona melhor do que nunca).
... a medicação que te prescreveram te faz duvidar do sítio onde colocas os pés e confundir um cão com um elefante.
... acabas o estupor do fim-de-semana a ter de engolir a vitória dos azúis que berravam "Somos os maiores, carago!" e " O Pinto da Costa é o meu pai!"
Há fins-de-semana fantásticos, não há? Só não cortei os pulsos nem esvaziei uma vista com receio de passar outras nove horas no hospital...
Pois é! Estava a fazer-me falta uma certa acção, uma certa adrenalina para que as férias tivessem aquele sabor de o-que-é-bom-acaba-depressa. Solução? Acabá-las no hospital!
Não... não é um novo conceito de fazer férias e também não devem entrar em pânico! Não organizem já excursões, não tentem saber em que piso estou ou o que me aconteceu! Até porque não sou eu a doente, mas, estes últimos dias e noites quase me mudei de armas e bagagens para o hospital local. Este post está mesmo a ser concebido in loco.
Tenho, portanto, ouvido muita coisa, observado ainda mais e cheguei a uma conclusão: quem diz mal do nosso sistema de saúde e, mais concretamente, dos nossos hospitais... não merece o ar que respira nem a água que bebe!
Eu tenho constatado como tudo é pensado ao pormenor, como tudo é idealizado e concebido para que o doente... vá o mais depressa possível para casa! Por detrás de tudo isto, deve, certamente, existir um cérebro brilhante que arquitecta planos geniais com vista à rápida recuperação de cada enfermo...
Comecemos pelos quartos: apenas duas camas, logo, apenas dois doentes. Bastante razoável. Até televisão há, mas... apenas sintoniza a TVI! Agora digam-me: qual é a alminha que aguenta uma estadia prolongada no hospital a levar com o Goucha, a Júlia Pinheiro e os Morangos? É antes uma luta desesperada para que desliguem soro e deixem ir a correr para casa!
Capítulo da alimentação: puré e arroz que fazem concorrência a muita argamassa, carne e peixe que elevam qualquer ração de combate à categoria de "nouvelle cuisine".
Casa de banho: aquela que sou obrigada a frequentar não fecha. Ou seja, sou obrigada a encostar o caixote do lixo para que as minhas intimidades não fiquem à vista de quem passa! E papel higiénico é coisa rara por aquelas paragens e, como não há moitas, lá vai a menina de rolo em riste!
Os seguranças: há tipos que gostam de fingir que as funções que exercem dão uma trabalheira do caraças. Vai daí, implicam com Deus e com o Diabo. Exemplo: 5 lugares de estacionamento destinado a deficientes, devidamente assinalados no chão e na parede. A sô dona Teia estaciona o veículo no lugar ao lado. O sô Segurança vem direito a ela e pergunta se tem autocolante no carro a indicar que é deficiente. Estive tentada a perguntar se ele por acaso queria um para ele! Mas limitei-me a indicar a sinalética dos lugares e fazer-lhe reparar que onde estacionei nada havia! Como estes "gaijos" não gostam de se dar por vencidos, ainda para mais frente a uma mulher, limitou-se a grunhir "Pronto, vá lá, vá lá!". Apeteceu-me pô-lo em coma, mas estava com pressa...
As visitas: eu até desconfio que há visitas que são escolhidas pelo hospital, como o público que é contratado para certos programas de televisão. Estão a ver aquelas visitas que vão averiguar as maleitas dos doentes dos quartos vizinhos e depois vêm fazer o relato? Aquelas visitas que se saem com "Olha, e sabes quem morreu esta semana?" e depois lá dão o obituário completo da paróquia e, não satisfeitos com isso e para que tudo fique mais animado, ainda acrescentam "Ah! E o filho do Felismino teve um acidente... coisa feia mesmo... e parece que não se safa...".
É ou não de nos pormos a destilar saúde por todos os poros e rumar a casa a toda a velocidade? É ou não um sistema de saúde muito bem engendrado?
(Robert Palmer - Bad Case Of Loving You (Doctor, Doctor))