Só estou à espera que chova. Pois, como já dizia alguém, ".. um blog é uma coisa de Inverno...", precisa de dias cinzentos e de estados de espírito a condizer. Chuva e neuras de mãos dadas. Dedicarmo-nos a um blog quando lá fora o tempo nos desafia a laurear a pevide, seria um pecado capaz até de levar à excomunhão.
Um blog exige pantufas bem peludas e pijama de flanela, de preferência daqueles cheios de renas, ursos e flocos de neve. Um blog desperta a vontade de beber chá e chocolate quente, de nos enroscarmos em mantas e em palavras.
Por isso, meus amigos, enquanto eu continuar a andar de top e sandaloca e a devorar gelados, armada em mula... nada feito! Venha a chuvinha, a trovoada, o granizo, a geada e teremos posts dignos desse nome. Só não me façam é vestir pijama de flanela e calçar pantufas, sim?
"I'm just the weatherman
I make the sun and rain and the colourful rainbow
I am a lucky man
I can freeze my pain if I feel that way"
Se este homem existir... façam-no chegar a mim. Mas digam-lhe que dispenso a chuva.
Contem-lhe apenas que sinto falta do sol e das cores. De rostos alegres e de gargalhadas sonoras. De afectos e de sentimentos genuínos. De palavras encorajadoras e de silêncios cúmplices.
A chuva, o cinzento e o preto... já me fizeram refém. Preciso que me libertem... Que me façam acreditar que as intempéries são passageiras e que atrás de uma nuvem negra existe mesmo um sol que apenas repousa...
Há os cépticos. Os que não acreditam. Os que nunca sentiram.
Há os crentes. Os que juram que existe. Os que já o viveram.
Chamar-lhe "Amor" corre o risco de ser exagerado, digo eu. Talvez por isso, eu prefira a expressão em francês, por não utilizar a palavra "Amour", mas antes o termo "Coup"... Como se de uma "pancada" se tratasse.
Uma pancada que nos atinge, vinda não se sabe donde e que nos deixa atordoados.
Uma forte ligação ou comunhão que se estabelece, mas cuja origem desconhecemos.
E o desconhecido assusta e suscita muitas dúvidas. E a opção de muitos é não ir ao seu encontro e renegá-lo.
Mas há o reverso da medalha... quando o desconhecido nos atrai e nos atiça a curiosidade. E aí, optamos por obedecer ao seu chamamento e lançamo-nos nessa espécie de abismo, indiferentes ao resultado da queda.
Eu só passei por essa experiência uma vez na vida. A do abismo. A do "coup de foudre".Há muito, muito tempo. Mas não esqueci, apenas "arquivei", como sempre faço com os momentos da minha vida que, embora chegados ao fim, me proporcionaram algo de bom, me enriqueceram enquanto ser humano.
Os maus momentos, esses... não têm direito a "arquivo". São incinerados e diluem-se no mais profundo dos esquecimentos.
Era noite. No ar pairavam vozes que se cruzavam numa troca de frases e de diálogos, desprovidos de nexo e aos quais eu me mantinha imune.
Todos os meus sentidos tinham sido absorvidos por notas musicais, saídas de uma viola desconhecida e das mãos de um estranho.
Nunca o soube. Nunca lho confessei. Não com estas palavras. Nem com quaisquer outras...
Há lá melhor forma de iniciar o ano, aqui, do que um post que serve para pôr uma coisinha ou outra em pratos limpos? Há, claro que há! Mas não me apetece falar delas... Até porque é domingo, até porque faz sol e até porque tenho mais o que fazer do que cogitar sobre assuntos demasiado profundos...
No entanto, devido a um episódio recente e em jeito de a-ver-se-me-faço-entender-de-uma-vez-por-todas, queria apenas deixar bem claro que não é o facto de alguém comentar meia dúzia de vezes o meu blog que passa automaticamente a fazer parte do meu grupo de amigos. E essa do "amigo virtual" também não cola porque nem sequer compreendo esse conceito.
Admito que se estabeleça empatia com quem nos comenta, quer pelo facto de nos identificarmos com o que pensa, com a sua forma de ser, de estar, de sentir, mas é preciso muito mais do que isso para que a palavra AMIGO seja a que passa a carimbar essa relação.
Não é pelo facto de me dizerem que gostam do que escrevo, da forma como escrevo, que há muito que lêem o blog e etcetera e tal que vou considerar que está uma amizade cimentada. Eu também aprecio muito o facto da senhora do talho me escolher sempre a carne mais tenra e do senhor da livraria tudo fazer para me arranjar aquele livro de que ando atrás, mas nem por isso desato aos beijinhos ou a chamá-los de amiguinhos, como se já tivessemos sido companheiros de armas ou vivido muita coisa juntos.
Porque ser amigo não se resume a uma troca de palavras ou de galhardetes. Exige mais. Muito mais. Não é uma ocupação de part-time, não é um parque de diversões apenas. Dá trabalho. Ocupa muito tempo. Requer disponibilidade e entrega e não se compadece com intervalos.
Amigo é alguém que me conhece para além das palavras, que capta o que estou a pensar ou a sentir, mesmo sem as palavras; que conhece os meus medos e inseguranças, os meus anseios e desejos; que sabe do que gosto e o que detesto; que me segura a mão nos maus momentos e que ri comigo nos bons. Mas é também alguém que não se coíbe de me chamar à razão, de me mostrar que posso estar errada, que fui injusta ou cruel. Porque um amigo não é quem diz ámen a tudo o que faço, mas é quem me aceita tal como sou, em toda a minha essência.
Tudo isto se consegue, aqui, na blogosfera? Não acredito nisso, nem por um segundo. Admito que possa ser o ponto de partida para desenvolver laços e até chegar a uma amizade, mas ultrapassando as "barreiras" do virtual.
Estou quase há um ano nisto dos blogs e olhando para a lista dos links que tenho na barra lateral, verifico que conheço pessoalmente os donos dos três primeiros. Mas apenas a Sô Dona Gaja entrou na minha vidinha (ou eu na dela, já nem sei...) pela mão do blog. Contacto com outros "bloguistas" graças ao msn, onde falamos, disparatamos, nos insultamos, mas sabemos que falta muito para sermos declarados amigos.
Sabemos. Porque somos pessoas maduras, com idéias e valores bem definidos. E conscientes também. Conscientes sobretudo de que a vida está muito para além do entretenimento que um blog proporciona e de meia dúzia de comentários.
(Ah! Antes que me esqueça... é só para dizer que retirar-me dos "amigos adicionados" dá-me cá um abalo... Basta ir ao meu perfil e ver o quanto me preocupo com isso...)
Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
o antes, o agora e o depois
por que você me deixa tão solto?
por que você não cola em mim?
As notas que se soltam da viola... inebriam-me. As palavras deliciosamente sussuradas... seduzem-me.
E depois... quem nunca desejou que alguém se "colasse" a si... por um momento... por muito tempo... para sempre?
Todos temos necessidade de expressar sentimentos... os bons e os menos bons. E não sei porquê, mas sempre tive a sensação que o ser humano tem muito mais facilidade em expressar raiva, desagrado, ódio, antipatia do que sentimentos mais puros. Será porque aquilo que nos faz ferver, que nos dá "volta ao estômago" transforma a nossa boca numa embalagem de abertura fácil? Por que será que há pessoas que parecem ter livre trânsito para ofender, ferir, magoar e revelam a maior das dificuldades em gostar, em amar?
Dizer, mostrar que se gosta... não é para todos!
Pensando melhor, talvez dizer até seja bem mais fácil do que demonstrar, provar. Até pela simples razão que as palavras valem o que valem. São apenas palavras.
Há quem diga "Gosto de ti", "Adoro-te", "Gramo-te" ou "Curto-te"(versões mais modernas) ou até "Amo-te" como quem diz "Passa-me aí o sal!". Este" gostar"... eu dispenso! Falta-lhe o calor do sentir.
Depois há quem pura e simplesmente não consiga transformar os sentimentos em palavras. Quem nunca ouviu alguém queixar-se que a cara-metade nunca proferiu um simples "Gosto de ti"?
Até há bem pouco tempo, eu pensava que este calar de afectos fosse mais do domínio dos homens, pois muitos ainda alimentam a ideia peregrina de que ser muito carinhoso, atencioso seja conotado como "mariquice". Mas tenho constatado que a não verbalização de sentimentos existe tanto no sexo masculino como feminino. E será que é assim tão importante utilizar a linguagem verbal para desvendar o que vai dentro de nós?
Eu atrever-me-ia a afirmar que a maioria de nós gostaria do meio termo. Eu gosto do meio termo. Gosto de um "Gosto (muito) de ti", de um "Adoro-te" ou de um "Amo-te", mas dito olhando nos olhos, pronunciado alto e bom som ou apenas sussurrado ao ouvido, numa multiplicação de toques, de carícias, de beijos e de abraços fortes, onde o perto se torna muito perto. Sem isso... é como abrir um ovo de chocolate e verificar que, afinal, é oco! Não estava tão recheado como supunhamos...
Há por aí "gaijas" que devem pensar que não tenho nada mais estimulante para fazer do que andar a responder a desafios! Quero ver se depois vêm cá a casa passar a pilha de roupa que aguarda ferro, lavar os tectos e as paredes, encerar o chão, polir as pratas e cortar a relva...
Pois tinha eu já elaborado o meu "planning" de tarefas para o fim-de-semana, quando a menina Reticências achou por bem dar-me sarna para me coçar. Vai daí, vou ser "obrigada" a pensar na minha vidinha e descrever com seis palavras (!) uma memória. Seis palavras... e por que não duas, já agora?!
É uma árdua tarefa, pois seis palavras é muito redutor para descrever um momento que nos marcou. Porque as memórias são isso mesmo: momentos que positiva ou negativamente deixaram rasto...
Há uns anos, no meu aniversário, ofereceram-me um livro. Abri-o e quem mo deu, tinha escrito esta frase:
"Sê feliz e que nada mais te importe..."
Li o livro em dois ou três dias e, no final, arrumei-o na estante junto a tantos outros. Mas fui buscá-lo vezes sem conta... não para o reler, mas por causa daquela frase que não parava de ecoar dentro de mim e que eu calava cada vez que fechava o livro e o repunha na estante.
Foi assim... durante anos. Até ao dia em que decidi que os desejos, mesmo os mais íntimos, não devem ser abafados e muito menos... adiados ou colocados numa "prateleira", à espera que alguém lhes dê vida. Nesse dia, abri o livro e não mais o fechei...
Agora, vem aquela parte de dar este "miminho" a outras seis pessoas (doce vingança!). Desculpem aqueles a quem "castigo" sempre, mas é mais forte do que eu!