Há os cépticos. Os que não acreditam. Os que nunca sentiram.
Há os crentes. Os que juram que existe. Os que já o viveram.
Chamar-lhe "Amor" corre o risco de ser exagerado, digo eu. Talvez por isso, eu prefira a expressão em francês, por não utilizar a palavra "Amour", mas antes o termo "Coup"... Como se de uma "pancada" se tratasse.
Uma pancada que nos atinge, vinda não se sabe donde e que nos deixa atordoados.
Uma forte ligação ou comunhão que se estabelece, mas cuja origem desconhecemos.
E o desconhecido assusta e suscita muitas dúvidas. E a opção de muitos é não ir ao seu encontro e renegá-lo.
Mas há o reverso da medalha... quando o desconhecido nos atrai e nos atiça a curiosidade. E aí, optamos por obedecer ao seu chamamento e lançamo-nos nessa espécie de abismo, indiferentes ao resultado da queda.
Eu só passei por essa experiência uma vez na vida. A do abismo. A do "coup de foudre".Há muito, muito tempo. Mas não esqueci, apenas "arquivei", como sempre faço com os momentos da minha vida que, embora chegados ao fim, me proporcionaram algo de bom, me enriqueceram enquanto ser humano.
Os maus momentos, esses... não têm direito a "arquivo". São incinerados e diluem-se no mais profundo dos esquecimentos.
Era noite. No ar pairavam vozes que se cruzavam numa troca de frases e de diálogos, desprovidos de nexo e aos quais eu me mantinha imune.
Todos os meus sentidos tinham sido absorvidos por notas musicais, saídas de uma viola desconhecida e das mãos de um estranho.
Nunca o soube. Nunca lho confessei. Não com estas palavras. Nem com quaisquer outras...
Um filme que vi ontem e uma breve conversa de "gaijas", resultou neste post que corre sérios riscos de ser abordado de forma séria... ou não. Veremos.
O ser humano, dizem, não foi feito para viver sozinho. E verificamos que existe realmente quem não consiga estar só, sem alguém com quem partilhar a sua vida. E conseguem mesmo permanecer dezenas de anos ao lado do(a) mesmo(a)(a) companheiro(a). Outros há que, posteriormente, quando o que era mágico se torna irritante e insuportável, optam por passar a viver orgulhosamente sós. Sós, mas aliviados e com o seu espaço, o seu tempo e, não raramente, a sua personalidade de volta.
Mas há ainda quem, não por opção, mas por factores de diversa ordem esteja só. Não orgulhosamente só. Apenas só. Carregando o fardo da solidão e arranjando subterfúgios de toda a espécie para camuflar totalmente ou simplesmente maquilhar um vazio emocional.
Todos precisamos de afecto, sem dúvida. Mas há quem o reclame, o anseie a tempo inteiro e quem apenas o deseje em part-time, sem qualquer compromisso ou obrigatoriedade.
No seguimento do tal filme, a pergunta que ontem deu consistência à conversa com outra "blogueira" aqui do sítio foi:
Viver com alguém só por carência afectiva... justifica-se? Apenas para não sentir o peso da solidão?
A minha amiga dizia que com o tempo as pessoas aprendem a gostar. Eu discordei veementemente. Para mim, ou se gosta ou não se gosta, ou se ama ou não se ama. Talvez seja o meu radicalismo a falar mais alto, mas não creio que o tempo opere milagres, que faça nascer sentimentos que nem em estado embrionário se encontram. O que, na minha visão, pode acontecer é criar-se o hábito de estar com aquela pessoa. Mas passar uma vida inteira ou apenas parte dela com alguém por mero hábito é aceitável? Preenche mesmo a necessidade de afecto?